Quando a profundidade vence a pressa: lições do caso Felca para a comunicação jurídica

Nos últimos meses, o influenciador Felca se tornou protagonista de um debate que ultrapassou o universo digital. Seu vídeo de quase cinquenta minutos sobre a adultização de crianças nas redes sociais não apenas expôs um problema grave, como também inaugurou um novo jeito de comunicar.

O que diferenciou sua mensagem não foi a velocidade, ele não correu para ser o primeiro a falar, mas a escolha consciente de aprofundar, editar e posicionar. Felca não monetizou o conteúdo, estruturou cada argumento com clareza e trouxe uma denúncia em tom acessível e contundente. O impacto foi imediato: repercussão midiática, discussões legislativas e mudanças judiciais.

Mais do que um episódio isolado, o caso Felca revela um movimento que pode servir de inspiração para outras áreas em que a comunicação costuma ser marcada pelo imediatismo, entre elas, a comunicação jurídica.

A lógica do “furo” e seus limites no Direito.

É comum que escritórios de advocacia e profissionais do Direito tratem sua comunicação como uma corrida contra o tempo. Uma decisão do STF, uma nova medida provisória ou uma alteração regulatória desperta a urgência de ser o primeiro a publicar nas redes sociais.

Porém, ao privilegiar a pressa, muitos conteúdos se limitam a reproduzir a notícia em tom técnico, sem interpretação, sem contexto e sem identidade. O resultado é previsível: informações padronizadas, que pouco diferenciam um escritório do outro.

Esse comportamento aproxima mais os advogados de uma função jornalística “dar a notícia” do que de uma função estratégica de comunicação, que deveria evidenciar autoridade, clareza e conexão com o público.

A alternativa: comunicar com profundidade

O modelo adotado por Felca sugere outra possibilidade. Em vez de competir pela exclusividade de quem publica primeiro, escritórios podem competir pela qualidade da análise. Isso significa:

  • Interpretar o impacto jurídico-prático da decisão para diferentes públicos (empresas, gestores, cidadãos);
  • Traduzir o jargão técnico para uma linguagem clara e acessível, sem perder precisão;
  • Assumir um posicionamento diante da pauta, reforçando valores e diferenciais do escritório.

Essa postura exige mais tempo e trabalho editorial, mas entrega conteúdo duradouro, que segue relevante dias ou semanas após a publicação da notícia. É o oposto do imediatismo: em vez de apenas noticiar, o escritório guia seu público.

Autoridade que se constrói

A comunicação jurídica pode, assim, aprender com Felca uma lição essencial: a pressa gera visibilidade, mas a profundidade constrói autoridade.

Ser o primeiro a falar garante algumas curtidas e compartilhamentos, mas ser a voz que explica, interpreta e direciona garante credibilidade a longo prazo. O caso Felca prova que o público valoriza quem organiza o caos informativo, e não apenas quem anuncia o fato bruto.

No Direito, essa lógica é ainda mais urgente. Afinal, a função social da advocacia também passa pela capacidade de tornar compreensível o que é complexo.

O marco de uma nova forma de comunicar

O episódio de Felca pode ser lido como um marco não apenas no debate sobre a proteção infantil, mas também sobre como comunicar em tempos de excesso de informação. Sua decisão de priorizar qualidade sobre velocidade ressoa como uma provocação ao campo jurídico: será que os escritórios estão dispostos a abrir mão do “furo” para ganhar em profundidade, clareza e autoridade?

Se a resposta for sim, a comunicação jurídica pode entrar em uma nova fase menos imediatista, mais estratégica, e muito mais conectada às reais necessidades de informação da sociedade

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Sérgio Lucchesi é jornalista e social media da M2 Comunicação Jurídica.

M2 Comunicação Jurídica é uma agência de comunicação integrada, voltada para advogados e escritórios de advocacia.

 

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