Especialista em perícia ressalta as dificuldades na identificação dos corpos em enchentes como no Rio Grande Sul

Médica legista destaca a importância da preservação de corpos e de registros que facilitem o reconhecimento, processo fundamental para as famílias  

A defesa civil do Rio Grande Sul divulgou ontem, 19/5, às 18h, um boletim com as últimas ações de resgate nos 463 municípios atingidos pelas fortes chuvas que devastaram o estado. O número de mortos subiu para 157, sendo que 88 pessoas continuam desaparecidas.  

Além dos efeitos devastadores das chuvas que inundaram casas e arrastaram tudo o que havia pela frente, incluindo pessoas, animais e outros bens materiais, com o passar dos dias crescem os desafios enfrentados pelas equipes de perícia no trabalho de identificação dos corpos.  

A médica legista Caroline Daitx, especialista em Medicina Legal e Perícia Médica e que se prepara para se deslocar para a região a fim de colaborar nos trabalhos como voluntária -, explica que as baixas temperaturas do Rio Grande do Sul, somadas à presença dos corpos em contato com a água, podem alterar significativamente tanto a velocidade quanto as características da decomposição. “A água facilita a proliferação de bactérias e pode acelerar o processo de putrefação. Contudo, a temperatura mais fria da região tende a retardar a atividade bacteriana, prolongando a conservação dos corpos submersos”.  

Outro ponto importante é que, com o tempo, os corpos tendem a perder flutuabilidade e podem afundar novamente. Daí a importância de as águas baixarem para que sejam encontradas pessoas desaparecidas. “A falta de oxigênio sob a água promove um processo de decomposição anaeróbica, levando à produção de gases no interior dos corpos. Esses gases são responsáveis por fazer os corpos emergirem à superfície, tornando-os temporariamente visíveis. No entanto, à medida que a decomposição avança e os gases são liberados ou consumidos, os corpos afundam”, detalha a médica.  

Caroline destaca ainda a importância de se registrar os locais por meio de fotos, já que muitas vezes o local onde a pessoa foi encontrada pode ajudar na identificação, assim como objetos, roupas e outros detalhes. Quando corpos são encontrados, é importante também que sejam acomodados de forma correta, em locais refrigerados, de maneira que haja alguma conservação dos aspectos físicos.  

Apesar das dificuldades estruturais e do processo doloroso deste trabalho, ela ressalta a importância do mesmo para o luto das famílias e sua saúde mental. “São pessoas que perderam tudo em meio à tragédia, muitas esperando por notícias de seus entes. Encontrar um corpo e identificá-lo corretamente permite às famílias um luto mais digno, primordial para que sigam adiante”.  

Fonte:  

Caroline Daitx é médica com residência em Medicina Legal e Perícia Médica pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou como médica concursada na política científica do Paraná e foi diretora científica da Associação dos Médicos Legistas do Paraná. Atua como médica legista particular e promove cursos para médicos e advogados sobre medicina legal e perícia médica.  

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