Falar ‘com sotaque’: ajuda ou atrapalha o entrevistado?

Falar ‘com sotaque’: ajuda ou atrapalha o entrevistado?

Por Natasha Guerrize

A diversidade linguística no Brasil é indiscutivelmente uma das grandes identidades de um País com tantas apropriações culturais. Se pensarmos na etimologia de cultura, em termos antropológicos, vem da “arte do cultivo” – portanto, as particularidades da fala, com suas inúmeras pronúncias, entonações e gírias refletem a nossa construção histórica.

Essa introdução não é uma novidade para você, advogado (a), que certamente passou pelos componentes curriculares de Filosofia, Antropologia e Ciências Sociais para compreender o homem contemporâneo. Mas trazendo à luz da Comunicação, sobretudo na imprensa, como o sotaque é visto pelos jornalistas? Falar com sotaque acentuado pode ajudar ou atrapalhar uma fonte durante uma entrevista em rádio ou TV?

O Media Training é um treinamento em que nós, assessores de imprensa, aprofundamos mais esse tipo de questão. Na história do telejornalismo brasileiro, a TV Globo criou o que conhecemos por “Padrão Globo de Jornalismo”, o que resultou numa “neutralização” do sotaque dos jornalistas da emissora carioca. A defesa, que passou a ser uma prerrogativa em outros veículos, é a de que o sotaque também poderia ser um ruído de comunicação, de modo a ofuscar a notícia.

E digo para você, advogado (a): sou prova viva dessa experiência! Quando trabalhava na afiliada da TV Globo na cidade onde moro, um dos editores fez uma seleção de jornalistas de internet para descobrir novos talentos para as telinhas. No fim do meu teste, meu chefe, à época, comentou: “Você está pronta… para apresentar o RJTV!”. A explicação que me passaram era de que meu sotaque carioca poderia atrapalhar a transmissão das informações e eu me restringiria tão somente ao noticiário regional do Rio de Janeiro.

No caso das fontes, a exigência não é a mesma, especialmente quando você trabalha o “princípio de autoridade” na sua área – e, por isso, fontes que se colocam sempre à disposição da imprensa para comentar assuntos mais “Hard News” acabam saindo na frente de outros profissionais. Além disso, os regionalismos podem aproximar o público, criar conexões, carisma e empatia.

Entretanto, há ressalvas importantes sobre sotaques que são necessárias para se pontuar:

  • Quando existe uma pronúncia mais acentuada combinada com uma dinâmica de fala mais veloz, a comunicação oral pode comprometer sua entrevista. Há o risco do público não conseguir acompanhar seu ritmo, e assim, o sotaque vai se destacar mais que a informação que você precisa passar.
  • Outro cuidado é com algumas gírias locais: seu público não é obrigado a saber termos tão específicos (e isso dialoga, também, com o juridiquês já comentado em outro artigo).
  • Há casos muito específicos em que sotaques podem restringir possibilidades comerciais para o veículo de comunicação. Quando até a própria audiência, muitas vezes ‘nichada’, acabar implicando com seu sotaque. Isso acontece em coberturas esportivas, em que a paixão por um time fala mais alto e as rivalidades são acentuadas.

Por isso, o Media Training é um recurso importantíssimo que vai elevar sua oratória na mídia, trabalhando seus pontos fortes na comunicação oral sem eliminar sua identidade regional. O mais importante é: em um processo de comunicação eficiente, comunicar significa “tornar comum”. Cabe a você, advogado (a), trabalhar seu sotaque sem perder sua marca, tampouco suas origens.

Natasha Guerrize é jornalista e Assessora de Imprensa da M2 Comunicação Jurídica.

M2 Comunicação Jurídica é uma agência de comunicação integrada, voltada para advogados e escritórios de advocacia.

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