*Por Elisangela Andrade
A participação de advogados na imprensa tem se tornado cada vez mais frequente, seja em programas de TV, rádio, podcasts, veículos on-line ou até mesmo em redes sociais institucionais. Essa visibilidade, quando bem conduzida, não apenas fortalece a imagem do profissional como também contribui para a disseminação de informações jurídicas relevantes à sociedade. No entanto, para que essa exposição gere efeitos positivos, é essencial compreender o que é adequado e o que se deve ser evitado ao conceder uma entrevista.
A seguir, algumas dicas básicas sobre os principais acertos e deslizes na hora de falar com a imprensa. As orientações são especialmente relevantes para advogados, cuja comunicação exige o equilíbrio entre clareza, autoridade e empatia com o público leigo.
O que é certo na hora da entrevista
Ambiente adequado: gravações ou transmissões ao vivo exigem um espaço silencioso e sem interferências externas. Opte por um local fechado, onde não haja risco de interrupções por barulhos, como buzinas, latidos, conversas paralelas ou música ambiente;
Cuidado com o fundo: a neutralidade visual é uma aliada da comunicação eficiente. Escolha um fundo limpo, de preferência liso ou com elementos discretos, que não desviem a atenção do conteúdo. Caso esteja fora do escritório, é recomendável utilizar o recurso de desfoque de fundo ou imagens neutras oferecidas pelas plataformas de videoconferência;
Posicionamento da câmera: ao usar o celular, use a posição horizontal (celular deitado), com o aparelho fixado em um tripé ou superfície estável. Isso garante enquadramento adequado e evita tremores que prejudicam a imagem;
Qualidade do áudio: fones de ouvido com microfone embutido ajudam a isolar o som ambiente e garantem clareza na fala, além de evitar o temido eco durante a transmissão;
Apresentação pessoal: a imagem do advogado deve refletir profissionalismo. Prefira roupas formais e discretas, evitando estampas chamativas ou acessórios que possam distrair. A formalidade reforça a credibilidade do conteúdo transmitido;
Linguagem acessível: ao tratar de temas jurídicos, priorize uma linguagem simples, objetiva e pausada. O público da imprensa, em sua maioria, é leigo. Evite o juridiquês e, sempre que possível, use exemplos práticos para facilitar o entendimento.
O que deve ser evitado
Locais inapropriados para entrevistas: dentro do carro, quer seja em movimento ou até mesmo parado, praças de alimentação, bares, restaurantes ou espaços abertos com muitos ruídos externos não são apropriados. Eles comprometem a qualidade da gravação e a concentração de quem assiste;
Vícios de linguagem: expressões como “né”, “tipo assim”, “tá”, entre outros cacoetes (uso repetidos de palavras), devem ser eliminadas. Além de empobrecerem o discurso, passam uma imagem de despreparo e insegurança;
Termos técnicos em excesso: por mais que o advogado esteja habituado a termos como exceção de pré-executividade ou ação rescisória, é fundamental lembrar que a entrevista se destina ao grande público. O ideal é traduzir conceitos complexos em uma linguagem cotidiana, sem perder a precisão;
Interrupções ao entrevistador: jamais corte o repórter ou apresentador. Mesmo que a pergunta contenha algum equívoco técnico, aguarde a vez de falar e, com gentileza, esclareça o ponto durante sua resposta. A cordialidade é uma ferramenta poderosa de autoridade;
Respostas monossilábicas: evite responder apenas com “sim”, “não” ou frases curtas. Uma entrevista é uma oportunidade de exposição positiva. Desenvolva seu raciocínio, sempre respeitando o tempo da entrevista, e demonstre domínio do tema;
Postura corporal inadequada: se estiver sentado em uma cadeira giratória, mantenha-se estático. Movimentos de rotação ou balanço transmitem nervosismo e distraem o público. O mesmo vale para gestos excessivos com as mãos — prefira mantê-las apoiadas no colo ou sobre a mesa.
Conceder entrevistas é, para os advogados, uma excelente forma de reforçar sua autoridade, construir reputação e cumprir um papel social de esclarecimento jurídico. Mas, como qualquer exposição pública, essa tarefa requer preparo técnico e cuidado com a comunicação não verbal.
Lembre-se, na imprensa o conteúdo jurídico precisa ser traduzido, e o advogado assume o papel de ponte entre a complexidade da lei e o entendimento do cidadão. Ser claro, gentil, profissional e didático é o caminho para se destacar de forma ética e eficaz.
*Elisangela Andrade é formada em Jornalismo desde 2000 e possui experiência de mais de 10 anos como assessora de imprensa. Também é formada em direito, tendo atuado como advogada na área trabalhista. Possui pós-graduação em Advocacia Extrajudicial.