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Setembro Amarelo: médica alerta para a prevenção ao suicídio entre indígenas

Relatório indica que 59 indígenas com até 19 anos cometeram suicídio no ano passado 

No dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A campanha Setembro Amarelo, que acontece durante o mês é uma iniciativa nacional de conscientização sobre a prevenção ao suicídio. Especialista em medicina legal faz um alerta sobre as informações divulgadas no “Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil”, que traz entre outros dados o número de suicídios de indígenas no ano passado.  

De acordo com o “Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil 2023”, o Brasil registrou 180 suicídios entre indígenas no último ano. Os dados, obtidos por meio do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), apontam que os estados do Amazonas (66), Mato Grosso do Sul (37) e Roraima (19) concentram os maiores números, refletindo uma tendência que se mantém há anos.  

Segundo o relatório, a maioria dos suicídios 69,4%, foi cometido por homens indígenas, sendo que 112 vítimas estão na faixa etária entre 20 e 59 anos de idade. Outra informação que chama a atenção é a alta incidência de suicídios entre os jovens. Em 2023, 59 indígenas com até 19 anos de idade cometeram suicídio, o que representa mais de um terço do total registrado no ano.  

A médica Caroline Daitx, especialista em medicina legal e perícia médica, destaca que o suicídio entre os povos indígenas é um problema complexo e que demanda uma abordagem sensível. “O consumo abusivo de álcool é um fator de risco significativo que atua como evento desencadeador de comportamentos suicidas. Esse consumo está intimamente ligado às condições socioeconômicas precárias, à falta de perspectivas e à perda da identidade cultural, problemas que afetam as comunidades indígenas”.  

Daitx considera que a prevenção do suicídio entre os povos indígenas deve ser abordada com estratégias que considerem as especificidades culturais e históricas de cada grupo. “Não podemos tratar o suicídio entre os indígenas da mesma forma que o fazemos com a população não indígena. É fundamental que as políticas públicas sejam adaptadas às realidades dessas comunidades, respeitando suas tradições e modos de vida. A inclusão ativa dos próprios indígenas na elaboração dessas políticas é crucial para garantir que as intervenções sejam realmente eficazes”, afirma. 

A taxa de suicídio entre jovens indígenas é 18,5 vezes maior do que a registrada entre jovens não indígenas, o que demonstra a necessidade de ações imediatas e específicas. Daitx ressalta que “o fortalecimento da identidade cultural e o resgate de práticas tradicionais são essenciais para reverter esse cenário. É imprescindível que as comunidades tenham acesso a cuidados de saúde mental adequados, que respeitem suas particularidades culturais”. 

A campanha Setembro Amarelo busca sensibilizar a sociedade sobre a importância da prevenção ao suicídio e promover ações que possam salvar vidas. No entanto, no contexto indígena, essas ações precisam ser ampliadas e adaptadas. “A questão do suicídio entre os povos indígenas é uma verdadeira epidemia silenciosa que exige um esforço conjunto de governos, profissionais de saúde, pesquisadores e das próprias comunidades indígenas. Somente com uma estratégia integrada, que respeite as diversas realidades sociais e culturais do nosso país, poderemos enfrentar esse problema de forma efetiva”, conclui Daitx. 

Fonte: Caroline Daitx: médica especialista em medicina legal e perícia médica. Possui residência em Medicina Legal e Perícia Médica pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou como médica concursada na polícia científica do Paraná e foi diretora científica da Associação dos Médicos Legistas do Paraná. Pós-graduada em gestão da qualidade e segurança do paciente. Atua como médica perita particular e promove cursos para médicos e advogados sobre medicina legal e perícia médica.   

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